domingo, 12 de abril de 2009

Demian

encontrei-me com ele na rua, altas horas da noite, no momento em que dobrava uma esquina, aos tropeções, completamente embriagado. passou ao meu lado e não me viu, os olhos ardentes e solitários perdidos na distância, como obedecendo a uma chamada que lhe chegasse do desconhecido. segui-o até o fim da rua. avançava como se fosse puxado por um fio invisível, num passo fanático, flutuando como um fantasma. entristecido, voltei para casa e para os meus sonhos não concretizados. “é assim que ele renova em si o mundo”, pensei; mas nesse mesmo instante percebi a baixeza e o preconceito moral daquela reprovação. que sabia eu de seus sonhos? em sua embriaguez talvez seguisse um caminho mais certo do que eu no meu temeroso escrúpulo.